domingo, 10 de julho de 2011

Quanto vale um ministro - Ana Dubeux

"O homem que se vende recebe sempre mais do que vale." A frase, atribuída ao Barão de Itararé, jornalista e humorista brasileiro que criticava sistematicamente e de forma sarcástica a política, é uma boa lembrança em tempos de denúncias intermitentes de corrupção na máquina pública brasileira. O país, afinal, está cheio de homens que recebem infinitamente mais do que valem — e fazem isso apoiando-se na combalida estrutura de poder do Brasil, que permite que a corrupção cresça e só apareça quando muitos interesses são contrariados ou quando a situação é tão grave que explode.

Descoberta a sangria nas contas do país pelo ralo das fraudes em licitações, superfaturamento nos preços de obras e pagamentos de propina, a ação mais natural e urgente seria identificar e afastar tais suspeitos. Nem sempre é assim — ou pelo menos, nem sempre é tão rápido quanto deveria ser. Nas cerimônias e nas palavras de despedida ao ex-presidente Itamar Franco, uma das lembranças mais evocadas por analistas e pelos próprios políticos foi sua decisão de afastar do governo o então chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, tão logo surgiram denúncias envolvendo o nome dele. Quando ficou comprovado que as suspeitas eram infundadas, o ministro voltou ao cargo. O ato de Itamar acabou batizado de "solução Hargreaves", apontado como bom exemplo de atitude política.

No escândalo mais recente, as denúncias em série envolvendo o Ministério dos Transportes, não se pode dizer que o titular da pasta foi tarde. A presidente Dilma foi célere no expurgo. Mas a situação é emblemática também por outro fator: a dificuldade de encontrar um substituto nos quadros do próprio partido, o PR, que é "dono" do posto. Os acordos políticos transformam a dança das cadeiras no primeiro e no segundo escalões do governo num jogo de lugares marcados. Alguém sai, mas o partido está sentado ali, marcando território — não porque tem alguém competente para indicar, mas porque essa é a regra da nossa democracia, pautada pelo fisiologismo político. Já que essa característica ainda vai demorar muito para desaparecer, espera-se ao menos que haja punição para os flagrados ganhando mais do que merecem — e até do que valem.

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