quarta-feira, 13 de abril de 2011

RUY CASTRO - Mais cidadãos

RIO DE JANEIRO - Que cena! Eu, um cidadão quase em idade de poder furar fila em bancos e tomar ônibus de graça, sendo vasculhado, com as pernas abertas e os braços em cruz, por uma geringonça eletrônica em busca de objetos suspeitos, na entrada da Feira dos Nordestinos, em São Cristóvão, outro dia. Teria feito mais sentido se o segurança me examinasse na saída, depois da fabulosa buchada de cabrito -esta, sim, um torpedo- que devorei num restaurante da feira.
Quem diria que o ataque a Nova York, em 2001, levaria a que, dez anos depois, uma singela feira popular brasileira se equipasse para detectar pistolas e peixeiras entre seus frequentadores? Mas foi o que aconteceu. Do detector de metais no aeroporto à humilhante porta giratória dos bancos e ao bastão que escaneia os torcedores na rampa dos estádios e ginásios, a paranoia não parou de crescer.
Dali estendeu-se aos shows de rock, à recepção em empresas públicas e privadas (com direito a retratinho compulsório no balcão) e, depois do massacre de Realengo, ameaça ser adotada até pelas escolas de 1º grau. Quando isso acontecer, cada brasileiro, não importa a idade, será visto como um suspeito, um potencial assassino em massa, alguém a não se tirar os olhos de cima durante qualquer evento.
Você dirá que, se essa medida já tivesse sido implantada, o matador Wellington não teria entrado tão facilmente na escola em Realengo. Talvez não. Mas quem o impediria de postar-se num terraço ou janela próximos e fuzilar as crianças quando elas saíssem à rua? E se, um dia, for possível vigiar todo mundo, quem vigiará os vigias?
O fato de o Brasil estar infestado de detectores de metal prova que as armas já são um problema. Eliminá-las não impedirá que, um dia, surja um novo Wellington. Mas nos tornará mais seguros, mais confiantes e mais cidadãos.

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