quinta-feira, 28 de abril de 2011

CARLOS HEITOR CONY - Tasso da Silveira

RIO DE JANEIRO - Um nome que apareceu na mídia de forma inesperada e dramática. Contudo não li uma única linha na imprensa escrita, nem ouvi, no rádio ou na TV, o mínimo comentário sobre Tasso da Silveira (1895-1968), cujo nome inocente e ilustre foi dado a uma escola em Realengo.
Trata-se de um brilhante intelectual da primeira metade do século passado, sobretudo um professor estimado pelos alunos, além de poeta e ensaísta que marcou uma corrente de origem simbolista, da qual fizeram parte poetas como Cecília Meireles e Murilo Mendes.
O grupo de Tasso da Silveira foi o contraponto literário e espiritual do nativismo dos Andrades, Mário e Oswald.
Ele praticou, segundo Péricles Eugênio da Silva Ramos, "uma poesia simples, clara, de cunho moral, cheia de espiritualidade e leveza; a nitidez e a religiosidade de seus versos atingem o auge em "O Canto Absoluto", de 1940".
Por ironia do destino, o nome de um homem delicado, marcado pelas coisas do espírito, foi dado a uma escola que serviu de cenário a uma das maiores tragédias da vida nacional, o massacre de 12 crianças em 7 de abril. Ouço comentários de gente ligada ao magistério e às letras sobre a conveniência de se mudar o nome da escola, a fim de que o poeta e professor de tantas gerações não fique associado ao episódio de Realengo.
Aliás, é um problema que caberá às autoridades municipais decidir: se devem manter como escola o prédio manchado por sangue ou se dão ao edifício outro destino que não lembre a chacina de tantas crianças.
O nome de Tasso da Silveira continuará merecendo memória em outro estabelecimento de ensino ou em fundação oficial destinada à educação da juventude, para resgatar a herança que nos deixou um homem que viveu em função do bem e do belo.

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