segunda-feira, 11 de julho de 2011

IGOR GIELOW - Zona de turbulência

BRASÍLIA - Com um pífio semestre nas costas, o governo Dilma desliza sobre o fio da navalha. A operação que defenestrou um grupo do PR da chefia do Ministério dos Transportes, vendida aos quatro ventos pelo Planalto como um marco civilizatório, aproxima-se perigosamente de um conflito aberto.
O governo tenta apaziguar Luiz Antonio Pagot, afastado do Dnit, órgão que praticamente rima com negócios suspeitos.
Pagot prometeu só falar amanhã no Congresso, mas vem dando um recado mais ameaçador que o outro ao governo. O PR, que não é bobo, o estimula e aproveita os 15 minutos de fama -é óbvio que nunca deixará de ser governista.
O que Dilma fez? Convidou o padrinho de Pagot, Blairo Maggi, para ser ministro. Ele não aceita, e agora o PR e Planalto ganham tempo. Mas a presidente parece não querer repetir seu mentor, Lula, que enfrentou o mensalão após deixar na chuva Roberto Jefferson.
Declarações de Pagot sugerindo atos pouco republicanos do ministro Paulo Bernardo, atingindo por osmose sua mulher, Gleise Hoffmann (Casa Civil), gelaram espinhas. Sem juízo de valor, vale o óbvio: apesar de "outsider", Dilma não surgiu do nada.
É comovente ver o Planalto vendendo a versão de que agora ela vai falar grosso, que os aliados feiosos (que nunca são do PT ou do PMDB) devem parar de roubar e que a herança maldita de Lula será extirpada, como se Dilma não estivesse no mesmo barco desde 2003.
Assim, fogo amigo ou voluntarismo amador podem explicar a enumeração de novos alvos para a faxina. São opções ruins para Dilma, que periga ver seu governo virar um pequeno Afeganistão, dividido entre facções rivais e armadas.
Há um cheiro de descontrole político no ar. Caixas-pretas podem ser abertas indiscriminadamente, o que será excelente notícia para o país. E péssima para o governo.

igor.gielow@uol.com.br

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