sábado, 15 de janeiro de 2011

A retomada do sexo no cinema nacional

Cinco novas produções abordam o tema, mas numa perspectiva bem distante da pornochanchada dos anos 1970

Maria Carolina Maia
Bruna Surfistinha, o filme (620)

Deborah Secco dá corpo à versão cinematográfica de Bruna Surfistinha (Divulgação)

Apesar da recente conquista de Tropa de Elite 2, o filme mais visto da história do Brasil com mais de 11 milhões de espectadores, a violência começa a perder espaço na nova safra do cinema brasileiro. Ao desgaste natural do tema, que dominou os sets nos últimos nove anos, segue-se a imposição de assuntos novos. E também velhos. Personagem quase onipresente no cinema dos anos 70 – a década da pornochanchada –, o sexo volta às telas em pelo menos cinco produções.

O retorno acontece com sucesso de público. De Pernas pro Ar, comédia sobre uma executiva que muda de vida ao abrir um sex shop, foi vista por mais de 1,75 milhão de pessoas em duas semanas. Outro filme, Desenrola, estreou na última sexta, 14, com a pretensão de atrair tanto filhos como pais com o tema da iniciação sexual de adolescentes.

“É uma tendência natural que temas diferentes de violência e favela sejam abordados. Diretores e espectadores têm vontade de fazer e de ver outras histórias”, diz o diretor Marcus Baldini, de Bruna Surfistinha, que a partir de 25 de fevereiro leva às salas escuras do país a história da garota-de-programa que ganhou fama com um blog. “No começo da retomada do cinema nacional (período iniciado com o longa Carlota Joaquina, Princesa do Brazil, em 1995) havia a escolha de fugir um pouco do modelo batido da década de 1970. Agora, com a solidez do mercado, que se desenvolve e abriga um número cada vez maior de produções, o tema voltou.”

Além de Bruna Surfistinha, baseado no livro Doce Veneno do Escorpião, da ex-prostituta que dá nome ao longa, Desenrola e De Pernas pro Ar, que já tem continuação à vista, outras duas produções fazem parte da atual safra sensual. A comédia Muita Calma nessa Hora, escrita e produzida por Bruno Mazzeo, esteve em cartaz em 2010, alcançando 1 milhão de ingressos vendidos. Já a quinta produção do grupo só deve entrar no set de filmagem em 2012. É o projeto de conversão para o cinema da vida da ex-prostituta Gabriela Leite, fundadora da Daspu, grife que emprega garotas-de-programa. O filme, do paulista Caco Souza, terá como estrela a atriz Vanessa Giácomo.

A distância das chanchadas com pitadas pornográficas não é apenas responsável pela recondução do sexo ao cartaz, mas também pela nova abordagem – mais leve ou artística – que ele vem recebendo. Comparados com os longas dos anos 1970, os de hoje parecem pueris. De Pernas pro Ar, por exemplo, foi classificado como “família” em uma pesquisa feita pela produção com espectadores, antes do lançamento. “É um filme sensual, mas não é erótico”, diz a produtora Mariza Leão, da Morena Filmes.

“O sexo não entra gratuitamente”, reforça Caco Souza, diretor do longa sobre a fundadora da Daspu. “O que importa é o conteúdo que está por trás. No caso da Gabriela Leite, é impossível contar a história sem sexo.”

O cineasta admite, ao mesmo tempo, que o alargamento temático da produção brasileira, com a inclusão do sexo no cardápio, segue uma estratégia de mercado. “A maior parte do público do cinema atual tem cerca de 25 anos, uma faixa etária que pode ser atraída pela temática. Se colocamos um rosto conhecido e bonito na tela, a bilheteria fica garantida”, diz, em referência às atrizes Deborah Secco (Bruna Surfistinha) e Vanessa Giácomo (Gabriela Leite). “Os famosos chamam público.”

A economia também tem dado um empurrãozinho à retomada do tema, como lembra Mariza Leão, cujo currículo traz ainda o bem sucedido Meu Nome Não É Johnny. “Com os milhões de brasileiros que ascenderam à classe média nos últimos anos, a plateia do cinema brasileiro cresceu substancialmente, porque esse é um público que adere mais ao produto nacional do que a classe A”, diz. “Com essa adesão popular, os filmes também se popularizam. E sexo é um tema popular.”

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