terça-feira, 18 de janeiro de 2011

MySpace: ladeira abaixo

Por Redação Link

Na semana passada, enquanto o Facebook negociava um investimento de US$ 500 milhões com o Goldman Sachs, o MySpace, que já foi a rede social mais popular do mundo, anunciava a demissão de aproximadamente 500 dos quase 1.100 funcionários. Foi o corte mais drástico já feito na companhia, que vem enfrentando dificuldades, e talvez seja o prenúncio da venda do site pela News Corporation, que o comprou em 2005 por US$ 580 milhões, depois de uma guerra de ofertas com a Viacom.


Bons tempos. O dono da News Corp., Rupert Murdoch, e os criadores do MySpace, Tom
Anderson e Chris de Wolfe (PHIL MCCARTEN/AP)

O declínio do MySpace é mais um exemplo da fragilidade desse tipo desse tipo de serviço, que vai da sensação ao sumiço em um instante. Segundo a comScore, o site tinha 54,4 milhões de usuários no final de novembro, depois de perder mais de 9 milhões deles em relação a 2009. “O MySpace era uma grande festa, mas a festa mudou de lugar”, disse Michael J. Wolf, ex-presidente da MTV Networks da Viacom. Em termos gerais, o declínio do MySpace lembra o infeliz pacto concluído pela AOL com a Time Warner: uma empresa de internet de grandes ambições, vítima de um choque de culturas, precipitado pela fusão num grande conglomerado de mídia. Surgiu então um concorrente com uma tecnologia melhor.

Agora, a News Corp. estuda a possibilidade de vender todo o site, pondo um ponto final a um negócio que, na realidade, nunca funcionou. Até Tila Tequila, modelo e rapper que, em 2006, foi chamada pela revista Time de rainha do MySpace, deixou o site e hoje prefere o Facebook. “Minha paixão pelo MySpace acabou”, disse, acrescentando que nem lembra mais a senha.
O MySpace nasceu como filial da News Corp. com o mesmo tipo de estardalhaço que agora cerca o Facebook. Rupert Murdoch, seu presidente, foi imediatamente saudado como um visionário digital. Quando Sumner M. Redstone, acionista que controla a Viacom, perdeu na briga para Murdoch, comentou que foi uma “experiência humilhante” e e demitiu Tom Freston, diretor-executivo da Viacom, por não ter comprado o site.

Murdoch foi um dos primeiros defensores do MySpace e de seus fundadores, Chris DeWolfe e Tom Anderson. Costumava convidá-los para longas conversas em seu rancho em Carmel, na Califórnia, sobre o futuro da mídia e frequentemente intervinha pessoalmente facilitando o seu acesso pela hierarquia da News Corp.para agilizar as decisões. Em 2007, quando Murdoch pôs os olhos na Dow Jones e na joia daquela coroa, o Wall Street Journal, parou de se concentrar na sua antiga obsessão.

Outro indício do choque cultural foi a decisão da News Corporation de mudar o escritório do MySpace de Santa Monica, onde os funcionários trabalhavam num loft e tinham acesso a inúmeros restaurantes e cafés, para um edifício em Beverly Hills, projetado para ser um hospital. Havia bem menos restaurantes por perto, e os funcionários começaram a sair do trabalho antes da hora para comer, voltando somente no dia seguinte.

Pesadão. Ao mesmo tempo, milhões de usuários abandonaram o site. Sua estética ficou pesadona e sem graça diante do Facebook, com sua interface simple.

Como muitos americanos, Erin Polley, de 29 anos, que trabalhava para uma organização sem fins lucrativas em Indianapolis, começou a frequentar redes sociais, anos atrás, no MySpace. E como muitos americanos, ela migrou. “Para mim, o site foi uma espécie de precursor do Facebook”, disse Erin, acrescentando que não entra no MySpace há anos porque “toda vez que fazia login, havia só mensagens de bandas das quais mal tinha ouvido falar”. “O Facebook permite conectar-se com pessoas reais, e não com bandas e celebridades”.

A pressão para ganhar dinheiro, em vez de investir em tecnologia e no aumento do número de usuários, pode ter determinado o fim do MySpace. “A questão é : quando você se preocupa com o crescimento, e quando com o dinheiro?”, disse DeWolfe. “Nós nos concentramos no dinheiro, e o Facebook se concentrou em aumentar o número de usuários e na experiência dos usuários”.

Inicialmente, a News Corp. anunciou o ambicioso objetivo de gerar US$ 1 bilhão de receitas, que não conseguiu cumprir. Um acordo de publicidade de US$ 900 milhões com o Google garantiu que a News Corp. recuperasse o dinheiro da compra, mas mais recentemente o desempenho do MySpace tem sido fraco. No último trimestre, a divisão que inclui o MySpace informou um prejuízo operacional de US$ 156 milhões.

Oposto do ‘Feice’. “Os prejuízos não são aceitáveis nem sustentáveis”, disse Chase Carey, número 2 da News Corp. O Facebook adotou a tática oposta. Recusando os bilhões da venda eventual a uma empresa maior, preferiu aumentar o número de usuários e melhorar o site, além de atrair investimentos, mantendo o controle quase total do site.

Embora o MySpace e sua joint venture com importantes empresas musicais, a MySpace Music, continuem funcionando como vitrine para bandas e músicos, até esse nicho está sendo alvo de ataques. Andy Suzuki, autor e cantor, fundou sua banda em 2006, quando estudava em Boston, e abriu uma página no MySpace. Recentemente, transferiu a página da banda para o Bandcamp, que reúne artistas independentes. “O MySpace era um lugar em que as pessoas podiam ouvir nossa música de graça. Mas quando começamos a ganhar popularidade, ficou evidente que ele estava cheio demais.”

Depois de várias tentativas de revitalizar o site – com mudanças na direção, demissões, mudança de rumo de rede social para entretenimento e um novo design, no final do ano passado – a companhia não é mais considerada concorrente do Facebook. No entanto, a trajetória do MySpace poderá ser instrutiva para o Facebook. “Essas empresas costumam obedecer a um ciclo”, disse Wolf, o ex-presidente da MTV, que já vez tentou comprar o Facebook para a Viacom. “Muitas pessoas se perguntam se o mesmo vai acontecer com o Facebook”.

Tim Arango/The New York Times (TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA)

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