quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Os Gaddafi, como os Mubarak, controlam setores econômicos de seus países

Maite Rico
Em Madri (Espanha)


As revoluções que estão fazendo cair como peças de dominó as ditaduras árabes têm como efeito inevitável a fiscalização das fortunas reunidas pelos autocratas e seus chegados. Agora foi a vez de Muammar Gaddafi, cujos negócios familiares, especialmente opacos, têm sua fonte principal no petróleo. Os especialistas não dão números, mas não duvidam de que o espólio retirado dos cofres líbios pelo clã Gaddafi chegue a "bilhões de dólares", de acordo com as diferenças anuais entre as receitas do Estado e os gastos públicos. E suspeitam da existência de vultosas contas secretas em Dubai, no Sudeste Asiático e em vários países do Golfo.
Segundo os telegramas da diplomacia americana vazados pelo Wikileaks, a família do ditador cometia uma constante sangria de receitas na Companhia Nacional de Petróleo. Seus tentáculos também alcançam os setores das telecomunicações, da construção e da hotelaria. Os despachos diplomáticos dão conta de comportamentos pouco edificantes dos filhos de Gaddafi, como as disputas entre três deles pela franquia da Coca-Cola ou a exigência de Mutassim, o quarto de seus herdeiros, de 880 milhões de euros à companhia petrolífera estatal para estabelecer sua própria milícia. Mutassim, conselheiro de Segurança de seu pai, é famoso por contratar para suas festas privadas cantoras como Mariah Carey ou Beyoncé.

Além disso, o Estado líbio como tal investiu no exterior cerca de 70 bilhões de euros através da Autoridade Líbia de Investimentos. Segundo o jornal britânico "The Guardian", o portfólio desse fundo soberano criado em 2006 inclui várias empresas estratégicas italianas - desde a petrolífera ENI à indústria aeroespacial - e um shopping center em Londres. Claro que, como sempre, as fronteiras entre o "Estado" líbio e os bolsos dos Gaddafi são confusas. Dos investimentos privados da família se conhecem os hotéis de luxo e duas engarrafadoras de água na Itália.
Na realidade, o padrão de enriquecimento dos Gaddafi é o habitual nos regimes autoritários, e não só no Oriente Médio: o líder se mantém aparentemente à margem, mas permite que sua família e próximos manipulem o país como seu feudo, de forma mais ou menos ostensiva. Ou mesmo grotesca. Tal é o caso de Leila Trabelsi, mulher do derrubado presidente tunisiano Ben Ali, cabeça de uma autêntica cleptocracia que, segundo a Transparência Internacional, controlava entre 30% e 40% da economia da Tunísia, e que em sua fuga precipitada ainda teve tempo de passar pelo banco central para levar 1,5 tonelada de ouro em lingotes, segundo publicou o jornal francês "Le Monde".
No caso do egípcio Hosni Mubarak, alguns especialistas acreditam que os números estimados sobre sua fortuna (entre 40 e 70 milhões de euros) são exagerados. "Sobram um ou dois zeros", declarou recentemente à emissora France 24 o especialista Jean-Noël Ferrié. Os Mubarak participaram de negócios, receberam comissões e acumulam bens de raiz nos EUA e no Reino Unido. Mas enquanto na Tunísia o clã Trabelsi e seus amigos controlavam toda a riqueza, no Egito, explica Ferrié, diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, "a corrupção salpicava toda a sociedade", seguindo um esquema clientelista. Mubarak, como fez seu antecessor Sadat, permitia que amplos setores (militares, funcionários públicos) tirassem proveito para garantir seu apoio.


Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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