quinta-feira, 27 de outubro de 2011

RICARDO MELO - Seis por meia dúzia?

SÃO PAULO - A crise no Ministério do Esporte deve traçar os limites nos quais a presidente Dilma pretende se mover em seu governo. A vingar o nome de outro membro do PC do B para o cargo, teremos mais um exemplo da vigência do lema: mudar para deixar tudo como está.

Desde a gestão de Agnelo Queiroz, antes no PC do B e agora no PT, a pasta serviu de posto avançado para o aparelhamento de uma parte da Esplanada. É puro cinismo afirmar que tudo não passa de um raio em céu azul. As denúncias de instrumentalização de convênios são antigas e de conhecimento geral.

A liberdade administrativa conferida a esses supostos comunistas sempre foi a contrapartida ao apoio político-eleitoral assegurado pela legenda. Em público, chamam a isso de acordos de governabilidade, negociação política e coisas do gênero.

Na realpolitik, trata-se do bom, velho e tosco toma lá, dá cá, celebrizado pela saia justa entre a presidente e uma apresentadora de TV num programa dominical. Semelhante, de resto, ao que ocorre em todo governo assentado numa coalizão ampla e disforme, como a das sucessivas administrações do PT no plano federal.

Mas certas diferenças pesam na balança. Por circunstâncias próprias a uma organização como o PC do B, a identificação do ministério com a estrutura partidária chegou a um ponto de quase simbiose.

Há sempre o risco de queimar a língua, concordo. Dificilmente, porém, a roubalheira atual propiciará a descoberta de espertalhões que, individualmente, tenham enriquecido na mesma proporção e visibilidade verificadas em escândalos como o da privatização da telefonia ou do mensalão. No caso dos pretensos comunistas, cabe sobretudo ao aparelho a fatia mais gorda do butim.

Se quiser pôr ordem na casa, Dilma terá que abandonar o princípio de reserva de mercado e profissionalizar a gestão do Esporte. Certo, seria uma ruptura e tanto -por isso mesmo, com pouca chance de acontecer.

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