quinta-feira, 27 de outubro de 2011

PAULO SANT’ANA - A farra da cerveja

O Rio de Janeiro parece ser mesmo um outro país dentro do Brasil, o que é comprovado pela notícia de apreensão dentro de um estabelecimento prisional para policiais militares de 2,6 mil latas cheias de cerveja.

Não pode entrar num presídio nem cerveja, nem celular. Só que a entrada em um presídio de um aparelho celular ou de uma dúzia de cervejas seria um fato sob certo aspecto aceitável, uma falha da vigilância. Mas 2,6 mil latas de cerveja é um carregamento em massa. O mesmo seria que uma empresa distribuidora de telefones celulares mandasse entregar num presídio 300 celulares, um para cada preso.

No caso, como há realmente naquele presídio 300 detentos, 2,6 mil latas de cerveja dariam a média de quase 10 cervejas para cada preso, seria uma festa invejável.

Mas eu pergunto: se teoricamente deva se tornar impossível passar pelo portão de um presídio uma lata de cerveja, como é que conseguem fazer passar pelo portão central 2,6 mil latas de cerveja?

Ou seja, não foi um só carcereiro que se deixou subornar ou prevaricou. Foram muitos. Foi, afinal, tudo indica, toda a direção desse presídio que se deixou subornar ou prevaricou.

A rigor, para passarem pelo portão de um presídio 2,6 mil latas de cerveja, até o governador do Estado deve ter prevaricado.

Esta notícia é impressionante. Ela só seria mais impactante se fosse dito que houve concorrência pública para licitar a despesa de 2,6 mil latas de cerveja.

Vejo na foto da apreensão das latas de cerveja no presídio que a marca é Skol. Mas a Brahma não teria o direito de pleitear para si, como a Antarctica, o fornecimento dessa carga etílica?

E a Skol, que foi a escolhida ou a privilegiada, terá o direito de fazer comerciais para a televisão em que aparecem até os presos comemorando qualquer ocasião com latas de cervejas nas mãos e ingeridas com sofreguidão?

O locutor diria a plenos pulmões: “Troque sua liberdade somente pela Skol, faça como os presos do Batalhão Especial Prisional da Polícia Militar, em Benfica, Fique preso somente à Skol”.

Mandaram abrir inquérito para apurar quem autorizou a compra de 2,6 mil cervejas para os presos.

Mas para que abrir inquérito? Se entrou tal quantidade de cerveja no presídio, a autoria desse descaminho já é conhecida. Começa pelo comandante do batalhão ou diretor do presídio e vem vindo para baixo, até o último escalão. Embora o pessoal debaixo apenas obedeça ordens e talvez também tome da cerveja.

Esse fato é um monumento à falta de vergonha nacional.

O que se tem de apurar nesse caso da cerveja é um só detalhe: quem pagou o carregamento da bebida? Foram os presos que se cotizaram, o que de per si já terá de causar espanto, como podem ter dinheiro para tal? Ou foi a direção da cadeia que usou verba pública para pagar a cerveja? Só isso que se tem de saber, mas como a vergonheira anda espalhada, é quase certo que foi verba pública que custeou a bandalheira.

Tem tudo que é crime nesse escândalo, corrupção ativa e passiva, peculato etc., fora os deslizes administrativos, como substituir a água pela cerveja, embebedar detentos, promover festa etílica no interior da casa de detenção, promiscuidade na festa contratada entre carcereiros e detentos, uma bagunça institucionalizada.

Esta notícia é digna de ampla repercussão internacional.

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