quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Você sabe o que o WikiLeaks tem a ver com o Napster?


Por Pedro Doria
O mundo todo está falando de Julian Assange e sua criatura, o site para recepção de informação vazada WikiLeaks. Do Departamento de Estado americano a empresas privadas, como a operadora de cartões de crédito Mastercard e o braço de serviços da Amazon.com, quem pode bater e se afastar do monstro criado por Assange o faz.
Estão errados.
Não é que estejam errados do ponto de vista da liberdade de fluxo da informação. Em alguns lugares, receber informação vazada é crime. Em outros, caso do Brasil, não é. Mesmo do ponto de vista ético, há bons argumentos para justificar os dois lados. Aqueles de tendência liberal sempre penderão pelo lado da liberdade, mesmo quando a liberdade incomoda. Assim como há quem, na direita e na esquerda, acredite com força que deve haver leis mais rígidas para proteger segredos.
Governos e corporações que bombardeiam o WikiLeaks estão errados por falta de pragmatismo. Estão cometendo o erro que as gravadoras cometeram com o Napster.
Porque a internet é assim: quem quer controlar o fluxo de informação, nela, terá dificuldades. Alguns, caso das gravadoras, querem controlar o fluxo de informação porque pretendem cobrar. Outros, governos certamente fazem parte deste grupo, precisam manter segredos. A internet é uma máquina de copiar e distribuir informação. No tempo do papel era mais fácil.
As gravadoras conseguiram, na virada do século, tirar o Napster do ar. O que ganharam foi uma penca de similares do Napster muito mais difíceis de conter. Depois que o público descobriu que podia trocar arquivos de música com facilidade, nunca mais foi possível conter o monstro. Se, no entanto, as gravadoras tivessem entrado em algum tipo de acordo com o Napster, a história poderia ter sido diferente. Era só um e sua arquitetura, centralizada, possibilitava maior controle.
O mesmo ocorre com WikiLeaks. É o pesadelo de corporações e diplomatas? Por certo. Mas, para o bem ou para o mal, WikiLeaks não publica tudo o que recebe. Faz a informação passar por uma série de jornais estrangeiros respeitáveis. Editores tarimbados, internacionalmente reconhecidos, analisam a informação antes de publicá-la.
O mais importante é que WikiLeaks é um só. É mais fácil conversar com um do que com muitos.
Se o WikiLeaks deixar de existir, bem, todos já vimos essa história. O povo da rede já aprendeu que uma de suas utilidades é facilitar a vida de quem quer vazar informação. Na ausência do único site do mundo que o permite, uma pletora de alternativas surgirá. E sabe-se lá que critérios seguirão.
Segundo a revista Forbes, um grupo de ex-companheiros de Assange já está criando o OpenLeaks. Neste, quem vaza a informação terá o direito de dizer que veículos de comunicação ou ONGs poderão receber o material. Ainda há algum controle.
O risco é que um grupo de anarquistas pode em algum momento criar um site assim sem qualquer controle editorial. Tudo é imediatamente tornado público. Vida de muita gente, nessas circunstâncias, pode ser realmente posta em risco. E empresas podem quebrar, inclusive por informação falsa plantada com facilidade.
É nessa hora que quem acha o WikiLeaks ruim sentirá saudades.

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