quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Google tenta reescrever o mercado de livros digitais

Autor(es): Jeffreu A. Trachtenberg, Jessica E. Vascellaro e Amir Efrati | The Wall Street Journal

Valor Econômico - 02/12/2010

O Google Inc. está nos estágios finais para o lançamento de seu aguardado empreendimento no setor de livros eletrônicos, a Google Editions, que pode sacudir a forma como os e-books são vendidos.

A iniciativa, que está atrasada - executivos do Google haviam dito que esperavam fazer o lançamento em meados deste ano -, acaba de superar várias barreiras técnicas e legais, disseram pessoas próximas da empresa. O lançamento nos Estados Unidos está previsto para este ano ainda e, internacionalmente, para o primeiro trimestre de 2011, disse Scott Dougall, diretor de gerência de produtos do Google.

Nas útimas semanas, livreiros independentes, que devem ter papel importante na Google Editions, começaram a receber contratos de sua associação. Vários editores informaram que estavam trocando arquivos com o Google - um sinal de que o lançamento está próximo, dizem editores. "Por causa da complexidade desse projeto, nós não quisemos sair com algo que não estivesse completo", disse Dougall.

A Google Editions espera transformar o mercado de livros eletrônicos oferecendo um modelo aberto, do tipo "leia em qualquer lugar", que difere do dos concorrentes. Os usuários poderão comprar livros de vários varejistas on-line - inclusive livrarias independentes - e adicioná-los a uma biblioteca on-line ligada a uma conta do Google. Eles poderão acessar sua conta do Google em qualquer dispositivo com um navegador de internet, como computadores, smartphones e tablets.

É uma abordagem bem diferente da usada pela Amazon.com Inc., que tem uma participação estimada de até 65% do mercado. Os usuários de seu leitor Kindle só podem comprar livros da própria Amazon, apesar de poderem lê-los em dúzias de diferentes aparelhos que rodam o software do Kindle e também acessarem livros gratuitos de outras fontes.

Detalhes importantes do projeto do Google permanecem sem resposta. O principal é qual porcentagem da receita o Google dividirá com livrarias independentes e outros vendedores. Também não está claro quantos e quem são os parceiros para a venda dos livros. A expectativa é que mais de 200 livreiros independentes dos EUA participem, segundo a Associação de Livreiros Americanos.

Por causa do alcance do Google - a ferramenta de busca atrai 190 milhões de usuários de internet nos Estados Unidos por mês, quase 1 bilhão no mundo, segundo a comScore Inc. -, muitos acreditam que a Google Editions tem o potencial de transformar o incipiente mercado de e-books. Espera-se que a venda de livros digitais nos EUA mais do que triplique em relação a 2009, quando movimentou US$ 301 milhões, e atinja a marca de US$ 966 milhões este ano, de acordo com a Forrester Research.

O Google afirma que está numa missão de alcançar todos os usuários de internet, e não apenas aqueles com os tablets, por meio de um programa pelo qual os websites remeterão seus usuários para a Google Editions. Por exemplo: um blog relacionado a surfe poderia recomendar um livro sobre surfe, direcionar os leitores para a Google Editions para comprá-lo e dividir os lucros com o Google. Por meio de outro programa, as livrarias poderiam vender livros Google Editions a partir de seus websites e dividir a receita com o Google.

"O Google irá transformar todo espaço da internet que fale sobre um livro num espaço em que você pode comprar aquele livro", diz Dominique Raccah, editora e proprietária da Sourcebooks Inc., uma editora independente sediada a em Naperville, Estado do Illinois. "O modelo do Google vai provocar muitas vendas. Nós achamos que eles podem obter 20% do mercado de e-books muito rápido."

A estratégia de não ter o seu próprio aparelho para a leitura dos livros digitais poderia dar uma vantagem competitiva ao Google, diz Brian Murray, diretor-presidente da HarperCollins Publishers Inc., editora da News Corp. À medida que o número de aparelhos portáteis de leitura - incluindo tablets e smartphones - se proliferar, a Google Editions será beneficiada "porque a sua tecnologia pode ser a menos dependente de aparelhos específicos", diz ele. A News Corp. é proprietária do Wall Street Journal.

O Google assinou acordos com muitos dos principais editores de livros e a expectativa é que ofereça centenas de milhares de títulos para compra e outros milhões de graça. A maioria dos títulos disponíveis atualmente em livrarias físicas estariam disponíveis na Google Editions "no lançamento ou logo depois", disse James Crawford, um diretor de engenharia do Google. Os preços de venda serão parecidos com os da Amazon e Barnes & Noble Inc.

Mas o Google também está enfrentando obstáculos devido ao começo tardio e ao modelo diferente.

Muitos compradores de livros digitais estabeleceram uma lealdade com os vendedores baseada em experiências de compras bem-sucedidas. O Google tem um histórico fraco no varejo que não vai muito além da venda de anúncios.

A empresa já está enfrentando resistência de alguns dos maiores vendedores de livros. Eles dizem que não precisam do serviço. "Não vejo vantagem em promover o conteúdo deles, especialmente porque ele pode ser pequeno em termos de receitas totais", diz Michael Edwards, diretor-presidente da unidade de venda de livros da Borders Group Inc., que vende e-books por meio de um acordo com a Kobo Inc., de Toronto.

Mesmo assim, alguns livreiros independentes que não podem pagar para abrir suas próprias livrarias virtuais acreditam que a Google Editions poderá ser o portal que permitirá a entrada deles no mercado digital. Os independentes instalarão tecnologia do Google em seus websites para que possam vender livros digitais e receber uma fatia da receita.

"Se eu não acompanhar o que está acontecendo, ficarei para trás", diz Liz Murphy, proprietária da The Learned Owl Book Shop, de Hudson, Ohio, que está ansiosa para ver o que o Google vai fazer. "As pessoas estão comprando e-books, mas elas não estão comprando de mim."

A loja de e-books é uma extensão do ambicioso - e por vezes controverso - plano do Google de digitalizar os 150 milhões de livros do mundo e torná-los acessíveis aos usuários da ferramenta de busca e pesquisa da empresa. Graças a vários centros de digitalização de livros localizados perto das principais bibliotecas, executivos do Google dizem que 10% do projeto, apelidado Google Books, já está completo.

O lançamento da Google Editions, que, alertam editores, foi atrasada antes e pode ser atrasada de novo, ocorre num momento crucial na transformação dos livros digitais.

Os aparelhos eletrônicos de leitura ficaram muito mais acessíveis. Quando a Amazon lançou o Kindle, em 2007, ele custava US$ 399. Hoje, é possível comprar um aparelho por US$ 150 ou menos. Com o lançamento do iPad da Apple Inc., em abril, mais de 15 milhões de e-readers e tablets serão vendidos até o fim de 2010, em comparação com os cerca de 2,8 milhões de leitores digitais de 2009, prevê a Forrester.

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