quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Os educatecas do Enem levaram bomba

Os educatecas do Enem levaram bomba

Élio Gaspari - Élio Gaspari
Autor(es): Agencia o Globo
O Globo - 10/11/2010


O presidente do Inep, Joaquim José Soares Neto, titular da lambança ocorrida com a prova do Enem, deveria ter pedido demissão no sábado, desculpando-se junto aos três milhões de jovens cuja vida atrapalhou.

Não tendo-o feito, o ministro da Educação, Fernando Haddad, deveria têlo demitido na segunda-feira. Não tendo-o feito, Haddad deveria ter pedido demissão ontem.

Os educatecas do Inep e Haddad mostraram que um raio cai duas vezes no mesmo lugar. No ano passado, uma sucessão de prepotências e inépcias transformou o projeto do Enem como substituto do vestibular num dos maiores fracassos do governo Lula. O ministro culpou a lei das licitações.

Livrou-se dela e foi de Waterloo para Stalingrado.

O educateca pernóstico é o sujeito que inventa um teste de “linguagem, códigos e suas tecnologias” para designar aquilo que se chamava prova de português. É um chato, mas não faz mal a ninguém. Maligno é o educateca com alma de bedel. O doutor Soares Neto, por exemplo. O Inep proibiu que os estudantes levassem lápis para a prova. Com isso tirou o direito da garotada de rabiscar cálculos e anotações à margem da prova. Na hora de aporrinhar, o educateca pode tudo. Na hora de fazer o seu serviço, pode nada.

O dia do Enem é uma jornada de tensão na vida de milhões de jovens e de suas famílias. A nota do teste habilita os estudantes para as bolsas do ProUni e em muitos casos determinalhes o futuro. Nessa hora, em vez de o poder público aparecer com uma face benevolente, vem com os dentes de fora. Em 2009 furtaramse as provas; em 2010, inverteramse os gabaritos e distribuíramse exames com questões repetidas ou inexistentes. Segundo o MEC, a responsabilidade é da gráfica.

Segundo a gráfica, a lambança atingiu apenas 0,33% dos 10 milhões de cadernos. Conclusão: 100% da culpa é das vítimas.

Descobertos os erros, não ocorreu aos doutores tirar dos portais do Inep e do MEC uma autoglorificação do doutor Soares José Neto Joaquim: “O primeiro dia de provas do Enem transcorreu em normalidade.” Segundo ele, a lambança “de forma alguma prejudica a credibilidade do Enem”. Empulhação.

No dia seguinte, ameaçaram chamar a Polícia Federal para xeretar tuiteiros.

(A propósito, inversões são um estorvo. O nome do educateca é Joaquim José Soares Neto.) O ministro Fernando Haddad foi de Waterloo para Stalingrado porque acreditou nas próprias promessas.

Quis fazer uma coisa, fez outra, deu errado em 2009 e voltou a dar e r r a d o e m 2 0 1 0 . Q u a n d o o Enem/Vestibular foi lançado, a garotada poderia fazer a prova duas vezes por ano, talvez três. Desistiram, preservando a máquina de moer carne, obrigando o jovem a jogar seu futuro num só fim de semana.

Haddad e o Inep sabem que um similar americano do Enem, o SAT, é oferecido à garotada em sete ocasiões ao longo do ano. O teste é feito on-line e as questões são praticamente individuais, complicandose conforme o desempenho do estudante.

Os educatecas não gostam desse exame, porque os obrigaria a trabalhar muito mais, expandindo seu acervo de questões e obrigandoos a conviver com uma cultura de provas eletrônicas, abandonando o método medieval do papel e caneta (lápis é proibido).

Burocrata gosta é de assinar contrato, de preferência sem licitação.

Deu no que deu.

Fernando Haddad acreditou nas próprias palavras, foi de Waterloo para Stalingrado, mas a conta do fracasso foi para a garotada

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