quinta-feira, 5 de julho de 2012

Novo Homem-Aranha tem data de validade

Por Bruno Yutaka Saito | De São Paulo

Quem tem criança em casa sabe. Elas adoram rever os mesmos desenhos e filmes e não querem ser surpreendidas. Preferem saber o que vai acontecer na cena seguinte, para que suas expectativas apenas se confirmem. "O Espetacular Homem-Aranha", que estreia amanhã no Brasil, apela ao infantil dentro de cada um.
Dez anos se passaram desde que o primeiro filme baseado no personagem das HQs, dirigido por Sam Raimi, chegou às telas - e apenas cinco desde o último episódio da trilogia. Na Hollywood de hoje, cinco anos representam uma eternidade, tempo suficiente para que uma produção seja considerada velha e merecedora de refilmagem. Cronologicamente, este novo longa, agora dirigido por Marc Webb, é o quarto filme da franquia. Mas, na terminologia em moda, trata-se de um "reboot".
No mundo da tecnologia, apela-se ao "reboot"/"restart" quando um aparelho trava. É um dos últimos recursos para fazer um computador voltar a funcionar, geralmente uma "gambiarra". Nos "antigos" filmes da série "Homem-Aranha" tudo fluía, do ponto de vista artístico e comercial. Alguns desentendimentos artísticos e comerciais no momento de criação do quarto filme, como a dificuldade em achar uma nova trama, a relutância do diretor em aderir ao 3D, alto cachê dos atores, foram suficientes para o acionamento do "reboot".
É o velho e conhecido dilema de arte versus indústria cultural, com a diferença de que, com "blockbusters", não há vergonha em se assumir como produto. "O Espetacular Homem-Aranha" apresenta uma ou outra mudança em relação ao filme de 2002, mas na essência traz a mesma história, apenas com embalagem diferente para seduzir um público sedento por "novidades" (mas não muito ousadas para desagradar ao consumidor conservador).
Conta-se de novo a história do órfão Peter Parker (Andrew Garfield). Após ser picado por uma aranha, o adolescente franzino adquire superpoderes e combate o crime, sob a alcunha de Homem-Aranha. Desta vez, explica-se o que aconteceu aos pais de Parker. Em vez do Duende Verde, o vilão é Dr. Curt Connors (Rhys Ifans), que se transforma em um lagarto gigante; e, no lugar da mocinha Mary Jane, está Gwen Stacy (Emma Stone).
Como entretenimento, "O Espetacular Homem-Aranha" funciona como um parque de diversões de ponta para todas as idades. Mas seu principal mérito, o enfoque no lado humano (os conflitos do adolescente cheio de problemas que se torna um super-herói), em vez da ação incessante, já estava na versão de 2002. Não há justificativa, que não seja de ordem econômica, para um "remake". Chama mais atenção a diminuição do tempo da vida útil dos filmes do gênero. Chega a lembrar George Lucas, que, de tempos em tempos, relança nos cinemas a série "Star Wars" com modificações sutis.
Nos dias de "Superman 2" (1980), a questão era saber se as sequências eram tão boas quanto os originais ou apenas caça-níqueis. Quando filmes como "A Marca da Pantera" (1982) retomavam produções com décadas de existência, "remakes" tinham o mérito de interpretar uma realidade antiga com novos olhos. As "prequências" (ou "prequel"), outro "gênero" em moda, é um meio de retomar personagens rentáveis e satisfazer a curiosidade em saber o que aconteceu antes ("X- Men: First Class", de 2011). Mesmo os "reboots" podem surpreender, quando lançam um olhar inusitado sobre velhos personagens, como em "Star Trek" (2009) ou "Batman Begins" (2005). Mas "O Espetacular Homem-Aranha" representa um caso único, por enquanto. O futuro apontado por esse filme de obsolescência programada é o do eterno "reboot".
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Direção: Marc Webb
Elenco: Andrew Garfield, Emma Stone, Sally Field e Martin Sheen

Nome Original: The Amazing Spider-Man
Site Oficial: Visite
Duração:104 minutos
Ano: 2012
País: Estados Unidos

 

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